Outubro de 2019 - Crianças precisam de vida, vida em abundância!

Uma a cada quatro pessoas que passam fome no mundo é criança. Como são 815 milhões de pessoas passando fome, são duzentos milhões de crianças abaixo de 5 anos privadas das necessidades básicas de alimentação. Essa é a conclusão da Oxfam, uma confederação que atua em mais de 100 países na busca de soluções para o problema da pobreza e da injustiça.
Em nível mundial tal situação foi escancarada no dia 2 de setembro de 2015 quando o mundo todo viu as fotos de Aylan Kurdi, um menino sírio de apenas três anos, morto numa praia da Turquia. A crise migratória já matou milhares de pessoas do Oriente Médio e da África que tentam chegar à Europa para escapar de guerras, de perseguições e da pobreza.
O corpo do menino apareceu em Bodrum depois que duas embarcações com imigrantes naufragaram. Pelo menos nove sírios morreram. As duas embarcações tentavam chegar à ilha grega de Kos. A foto virou um dos assuntos mais comentados nos diversos veículos da imprensa internacional – um registro emblemático da gravidade da situação. “The Guardian”, jornal britânico, disse que as fotos levaram para as casas das pessoas “todo o horror da tragédia humana que vem acontecendo no litoral da Europa”. O americano “Washington Post” classificou a imagem de “o mais trágico símbolo da crise de refugiados do Mediterrâneo”. O mundo enfrenta a pior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial, segundo organizações como a Anistia Internacional e a Comissão Europeia. E o drama continua.

Ela já tinha perdido a sua aula de balé - por causa da agitação dos combates de rua, as aulas tinham sido suspensas. Na manhã da terça-feira, 24 de setembro, sua mãe, Vanessa, contou a Fátima Bernardes, no programa Encontro, que Ághata tinha cada vez mais medo. É que a saraivada de tiros dura cada vez mais. Cada vez mais. “Agora tem muita bala. É uma eternidade”, disse a mãe de Ághata.
Não há como não se solidarizar com essa mãe, com essa família, com essa comunidade, com as favelas, com o Rio de Janeiro e com o Brasil, que vai pelo mesmo caminho. Nas 763 favelas do Rio vivem mais de um 1,3 milhão de pessoas, de acordo com o Censo 2010. Com o discurso de salvar o Rio da criminalidade, seu governador Wilson Witzel põe em risco a vida de milhões de pessoas, todas pobres, a maioria negra.
Só três dias depois, Witzel achou por bem responder aos apelos da opinião pública. E declarou: “Reduzimos em 21% os homicídios. Se nós não estivéssemos trabalhando da forma como as polícias estão trabalhando, teríamos hoje quase 800 pessoas mortas”.
Mas a polícia do Rio já matou, só em 2019, quase 900 pessoas, segundo o Observatório da Segurança Pública. Entre os mortos estão 5 crianças, das 11 que foram baleadas. Isso não é política de segurança pública. Tem outros nomes. Pode ser interpretado como genocídio ou como extermínio porque mira num determinado grupo populacional: negros e pobres. Os dados do Atlas da Violência 2019 mostram que a taxa de homicídios de indivíduos não negros diminuiu 6,8%; entre as vítimas negras, houve um aumento de 23,1%.
No Evangelho, Jesus pega uma criança e a coloca no meio da roda, dizendo: “O que vocês fizerem por esta criança, farão por mim.” Pelo visto, a nossa sociedade, quer a nível mundial, quer a nível nacional, não está sendo aprovada neste teste. Vamos fazer da nossa sociedade uma sociedade mais humana, para que todas as crianças tenham vida, e vida em abundância.
Padre Ailton António dos Santos, vigário paroquial